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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Notas aleatórias sobre poesia na NET



Li um dia num manual de língua e literatura uma pérola rara de incompetência, na tentativa de definir poesia. Transcrevo: “A poesia é a arte de compor palavras e dar-lhes ritmo, utilizando os recursos da rima e da métrica”. Não está errado o que aí se diz, mas de meu ponto de vista reduz a poesia a um jogo de rima e métrica, o que me parece falso.
Engessa o poeta.
Ao contrário, o poema liberta o poeta e tem vida própria.
Ultimamente leio poetas de alguma qualidade que aparecem e desaparecem na tela de meu monitor, via Internet. São gente de bom gosto, mas que talvez não tenham parado um momento para pensar no que escrevem.
Vejo tentativas de compor frases seja com rima seja com métrica seja finalmente sem rima e métrica, mas com recursos muitas vezes apenas combinatórios, juntando de forma inesperada [e muitas vezes sem sentido] substantivos e adjetivos de possível valor poético, individualmente,  mas que, combinados, soam falsos. Mimicam poesia priva entretanto de sentido lógico ou metafórico.
Leio com/sem surpresa ensaios de aproximação com a literatura oriental, japonesa em geral, o que me parece bem, mas essa é empreitada delicada para quem não vive as realidades culturais desse oriente. Leio gostosos poeminhas de curto fôlego, insinuantes, significativos, mas o mistério poético do Hai-Kai só os originais japoneses conseguem. 
O problema da tentação do discurso, que desmancha o poema, há-de ser enfrentado. Um poema não necessita receber frases finais que expliquem o que sente ou pretende o poeta. Ao contrário, talvez devam deixar ao leitor a sensibilidade de interpretar [ou sentir].
As liberdades que muitos assumem levam a um interminável experimento sem resultados. A poesia lê-se com os olhos, mas percebe-se na imaginação. O ritmo é interno, o poema nisso é um mistério a ser decifrado pelo leitor e, quando entendido, talvez seja um novo poema que não tem a ver necessariamente com a idéia do autor. É no trânsito entre autor/texto/leitor que acontece a poesia.
Essa é a idéia da liberdade na poesia. 
Continuemos entretanto tentando, porque isso nos dá vida, mas busquemos a inspiração dos mestres para criar. A criação avulsa, a descoberta do novo, só os gênios conseguem. 

Rio, julho de 2011.




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