Reflexões:
Há-que ter consciência do significado de nossa relação com a Argentina: a geografia determina nossa proximidade (e porque não dizer?), nossa dependência recíproca.
A relação entre os dois países é físico-geográfica (nascemos gêmeos) e transcende Governos.
Do ponto de vista do Direito Internacional são Estados soberanos, iguais nos seus direitos e deveres internacionais, entretanto densamente entrelaçados do ponto de vista econômico e humano .
Modernamente, a Argentina é o terceiro mercado para produtos brasileiros e a principal consumidora de nossos produtos industriais entre automóveis e a abrangente "linha branca", que sobrevivem por conta do mercado argentino e do MERCOSUL, com todos os seus defeitos.
É importante assinalar que tal mercado não é só Argentina, mas Paraguai e Uruguai, ainda que a parte do leão, no que tange nossos interesses industriais, seja o país platino.
Um Governo brasileiro pode ter preferências políticas, mas não deve expor internacional e agressivamente suas diferenças.
O campo internacional é naturalmente de interesses mais ou menos conflitantes, mas cujo manejo exige cuidados. A Diplomacia exige respeito recíproco entre países, independente de suas opções políticas internas. Da maneira como foi organizada a convivência inter-estatal, exige-se a não-interferência nos assuntos internos de um Estado em outro.
No caso Argentino, temos historicamente buscado o entendimento, para superar o belicismo dos primeiros tempos, quando mantínhamos nossas Forças Armadas especialmente capacitadas no sul do país e disputávamos o conhecimento nuclear.
De forma progressiva e inteligente, procuramos o diálogo, mesmo em tempos difíceis recentes, como no conflito envolvendo as Malvinas e o regime de Buenos Aires, quando a tradicional diplomacia brasileira superou-se ao reconhecer a soberania argentina sobre as ilhas, sem agravar nossas relações com Inglaterra e EUA (que apoiavam a Inglaterra), o que contribuiu para encerrar a disputa sem mais desperdício econômico e perdas humanas.
Construímos Itaipu, em negociações difíceis envolvendo o Paraguai e a Argentina, que temia as dimensões da usina como uma ameaça até mesmo de destruir Buenos Aires, em caso de rompimento, quando defendiam a ideia de uma usina a jusante, Corpus, dependente da cota da barragem de Itaipu.
As rivalidades e disputas na área nuclear foram superadas definitivamente com a opção da cooperação e informação recíprocas, inclusive pela criação de uma agência binacional para acompanhar os programas nacionais.
Será compreender a História e nossa tradição diplomática, agora, manter-nos interessados mas atentos, para não prejudicar o Brasil nas relações com um possível Governo de oposição em Buenos Aires.
Rio, 19 de agosto de 2019.
segunda-feira, 19 de agosto de 2019
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