Rio+20
, uma Conferência de celebração e reflexão.
[março de 2012]
Vinte anos são passados da já consagrada Rio-92,
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujas
decisões moldaram ações importantes tanto no plano internacional quanto
nacional.
A Rio 92
Os anos que antecederam 1992 foram anos de grande
mobilização governamental no plano internacional. Não por acaso, cento e dezessete
Chefes de Estado e de Governo vieram ao Rio para completarem instrumentos
importantes negociados nos meses que imediatamente antecederam à reunião de
cúpula.
Da Conferência emergiram convenções, declarações e
métodos de trabalho que marcaram os tempos:
·
uma Convenção sobre o Clima, que se desdobrou
no Protocolo de Kioto e, desde a
Conferência das Partes [CP18], realizada em Durban, promete evoluir para um Protocolo de aceitação universal a ter efeito em 2020, que estabeleça metas e regras obrigatórias
para combater o fenômeno do aquecimento global;
·
uma Convenção sobre Biodiversidade, ratificada por 118 Estados, que tem definido importantes marcos legais e políticos
para orientarem a gestão da biodiversidade em todo o mundo;
·
uma Convenção sobre Desertificação, cujos objetivos são “lutar contra a
desertificação e minimizar os efeitos da seca, em cerca de 30% da superfície
terrestre do planeta, afetando milhões de pessoas;
·
a Agenda 21, o principal documento de sentido
prático produzido na RIO-92. Trata-se de um programa de ação que viabiliza
novos padrões para um processo de desenvolvimento racional. A Agenda 21 procura
conciliar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica,
para aplicação local, nacional e planetária;
·
uma Declaração
do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo objetivo foi estabelecer uma nova e justa parceria global por
meio de novos planos de cooperação entre os Estados. Definiu princípios
importantes para a ação do homem e em defesa do planeta.
De fato, a Conferência do Rio foi a culminância de um
movimento discutido e sistematizado no Relatório Brundtland, de 1987, cujo
centro motor seria reconhecer que o processo de desenvolvimento não dispensa
consideração dos destinos do Planeta, dos seres vivos que o povoam e
enriquecem, dos bens naturais e do agudo problema social advindo das
desigualdades criadas dramaticamente por distintos regimes políticos e sistemas
econômicos, tanto no plano nacional quando no plano internacional.
Naquela época o clamor internacional começava a se
institucionalizar em organizações da sociedade civil, para enunciar suas
preocupações, denunciar descalabros e desastres de forma crescentemente
participativa.
A Rio + 20 [Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável]
Nos vinte anos que intermedeiam uma e outra conferência
muito se evoluiu do ponto de vista da opinião pública e da mobilização de
grupos de ação ambiental e social. A sua maneira e no seu ritmo, a empresa
mobilizou-se em torno de medidas mitigadoras da poluição resultante dos
processos de produção; tecnologias foram adotadas em produtos para torna-los
menos daninhos ao meio ambiente. Alguns
conceitos enunciados em 1992 foram
definitivamente incorporados no consciente de homens e mulheres que se
dedicaram a estudá-los e a aplicá-los. Houve progressivo avanço no plano
internacional, com o esgalhamento de debates e ações em distintas organizações
intergovernamentais.
O tempo estava maduro para que uma reunião de alto nível
fosse convocada para celebrar os vinte anos passados e os desenvolvimentos havidos,
mas especialmente para discutir medidas futuras eficientes e de maior impacto
para encaminhar a evolução da vida no planeta.
Tenho procurado demonstrar em artigos que
venho escrevendo para a excelente revista ECORIO 21 que o encontro de junho no
Rio Centro terá por fulcro o conceito de desenvolvimento
sustentável consagrado na Conferência do Rio, em 1992.
A comunidade internacional buscará na ocasião
repensar o modelo de desenvolvimento que temos adotado quase universalmente, para
enunciar formas e modos de encontrar o equilíbrio necessário entre necessidades
humanas e o uso dos bens naturais, garantindo ao ser humano a dignidade perdida
nas desigualdades históricas de uma sociedade humana injusta e indigna de suas
conquistas. Não é possível continuar indiferente aos imensos bolsões de pobreza
que condenam 1,2 bilhões de seres humanos a mais abjeta miséria. Se por um lado
a consciência de homens e mulheres clama por uma ordem social mais justa, por
outro não ignora os destinos do planeta de nove bilhões de seres humanos.
Trata-se de eliminar tanto a erosão e perda
dos bens naturais quanto de sustentar o nível de desenvolvimento que ofereça ao
ser humano dignidade. Ainda que tenha o ser humano como centro, a comunidade
internacional não descuidará de questões que envolvam o planeta nem da
emergência ética de pensar nos outros seres vivos, que garantem o equilíbrio do
sistema planetário em sua biodiversidade. São matérias de convenções
específicas que dispõem de foro próprio, mas a Rio+20 poderá significar um
estímulo a avanços em todas as áreas.
Há que
trazer ao centro das discussões os bens da natureza, desgastados nos processos
de produção, abusados em sua disponibilidade para futuras gerações. Seu uso e
seu desgaste são valores a serem incorporados na contabilidade da produção e do
consumo.
É tempo de repensar todo o processo de
desenvolvimento através do novo conceito do desenvolvimento
sustentável capaz de quebrar preconceitos e consensualmente modificar
paradigmas.
A Rio+20 aconselhará e recomendará passos
futuros em todos os planos, estabelecendo a direção e o modus faciendi de um novo modelo de desenvolvimento.
Flávio
Miragaia Perri
é Embaixador aposentado, foi Secretário Executivo do Grupo de Trabalho Nacional
que organizou a Conferência do Rio em 1992, Secretário Nacional do Meio
Ambiente [hoje Ministro], Presidente do Ibama, Secretário de Estado do Meio
Ambiente no Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário