Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
‘Foi a primeira vez que a comunidade internacional admitiu esse conceito’, observou Perri, acrescentando que ele se consagrou na Rio 92. Segundo o diplomata, pela primeira vez esse conceito ‘qualificou o substantivo desenvolvimento com o adjetivo sustentável e não reduziu a perspectiva de desenvolvimento’. Ele explicou que, ao contrário, deu mais segurança ao processo de desenvolvimento, ‘para que ele se mantenha contínuo e permita que sejam produzidos bens que tragam bem-estar e vida digna para os seres humanos’.
O embaixador aposentado destacou que a conferência Rio+20 já parte desse conceito, que é bem aceito e reconhecido pela opinião pública e objeto de interesse de governos, empresas, indivíduos e grupos sociais.
Outra diferença é que a Rio 92, também chamada Cúpula da Terra, vinha negociar uma agenda com foco preciso. Chefes de Estado de todo o mundo foram ao Rio naquele ano para negociar os tratados sobre biodiversidade e clima e a Agenda 21, que Perri definiu como um modelo de convivência humana e de governabilidade firmado em 1992. ‘A meu ver, esse é um instrumento central, resultante da Rio 92′.
Ele comentou que a Rio+20, ao contrário, foi convocada ‘sem que houvesse uma linha de chegada, como havia na outra (conferência)’. Referiu-se a uma negociação que resulte na assinatura de um tratado específico. Segundo Flávio Perri, o que a Rio+20 terá é uma declaração, que poderá ser muito importante se indicar novos rumos para o desenvolvimento sustentável ‘até o fim do século ou além’.
O coordenador da Rio 92 avaliou que o rascunho da conferência, chamado documento zero, foi produzido a partir de sugestões dos governos e está ainda recebendo indicações informais a respeito desse novo rumo de desenvolvimento que deve ser seguido pelas nações. ‘É uma nova forma de encarar o processo de desenvolvimento, que deve ser sustentável, respeitando os bens oferecidos pelo planeta como insumos para a produção’.
Perri deixou claro, entretanto, que a conferência não pode decidir as modificações, mas somente indicar o caminho, de maneira que a produção condicione um consumo também diferenciado. ‘Esse é um ponto essencial na percepção do que poderá vir da conferência. É uma revisão dos métodos de produção, dos critérios para qualificá-la e também do consumo’. Para o coordenador da Rio 92, a nova conferência da ONU tem de estabelecer um patamar que torne possível a sobrevivência do planeta, que tem hoje cerca de 7 bilhões de habitantes.
Ele disse que ao reconhecer e respeitar os limites do planeta, será mais fácil balizar a produção que devemos ou podemos tirar, em termos de bens e insumos oferecidos, para a nossa sobrevivência. ‘O que não é justo é que continuemos a explorar os insumos do planeta – minerais, animais e vegetais – em prejuízo de futuras gerações’, advertiu.
Esse é o novo modelo de ver a organização da sociedade. Isso significa também, apontou Perri, novas maneiras de articular as atividades dentro da sociedade, partindo dos governos e enviando mensagens à ação social. ‘Por aí, vamos chegar talvez a um documento que poderá ter impacto e que irá encerrar a conferência’.
Edição: Graça Adjuto
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