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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

AMAZÔNIA III


A AMAZÔNIA  e a soberania brasileira


Não há um problema de soberania nas preocupações dos países desenvolvidos, há preocupações válidas quando aos cuidados que o novo Governo (de sete meses) não tem para com o meio ambiente, aí considerada principalmente a Amazônia, que é nossa (e ninguém discute ou a discutirá, se por ela zelarmos com políticas claras).

Meio Ambiente é matéria sensível no mundo todo, mesmo entre os grandes poluidores, que há alguns anos vêm buscando soluções para um problema global.

A Conferência do Rio, de 1992, foi uma primeira demonstração clara e universalmente exposta de que os cuidados ambientais se tornariam centrais no correr futuro dos anos. Ali se previu um tratamento da Biodiversidade, onde fomos líderes, uma declaração sobre florestas, que antevia uma questão que se tornava universal, mas era fundamentalmente de nossos cuidados, um novo conceito para o desenvolvimento econômico, com a ideia do Desenvolvimento Sustentável.
O Acordo de Paris deu praticidade internacional ao tratamento do aquecimento global. Conseguimos ali impor nossa maneira de implementá-lo, com um projeto brasileiro que nos comprometia conosco mesmos, aprovado sem reparos.
A Amazônia tem de ser cuidada, cientificamente pesquisada em todos os seus aspectos, suas riquezas aproveitáveis postas à disposição tecnologicamente da economia, sua população respeitada, porque detém conhecimentos importantes sobre a floresta e são seres humanos, índios ou não, que não podem ser ameaçados ou abandonados à própria sorte.
Parece uma tarefa hercúlea. E é.
O Estado deve continuamente zelar por toda a área em todos esses aspectos e pode contar com o auxílio prestimoso de cientistas e organizações não-governamentais, sob regras claras e republicanas para realizá-la. É tema delicado interna e internacionalmente. Exige conhecimento e capacidade de gestão, que o Brasil tem.
A Amazônia não pede por bravatas.

Rio   to de 2019 

sábado, 24 de agosto de 2019

AMAZONIA II



A Amazônia, as queimadas e o Presidente.

Talvez ontem, sexta-feira, dia 23 de agosto, tenhamos assistido a primeira manifestação racional e coerente do
Presidente desde que assumiu.
Foi um discurso sucinto, mas que abordou com clareza sua política ambiental para a floresta Amazônica, incluindo nela os crimes ambientais. Apresentou sua positiva nova percepção ambiental e integrou-a na perspectiva humano-social.
Tratou de Amazônia como área de soberania nacional, como devia, mas admitiu que devesse envolver a vasta floresta de 6,3 milhões de hectares, associando populações (cerca de 20 milhões de pessoas), governos de Estado e a União num esforço comum de combate ao desmatamento ilegal, às queimadas sazonais, a atos criminosos e ao desenvolvimento, com sustentabilidade ambiental.
Uma política de “comando e controle não basta”, assinalou.
Expressou-se em tom exaltado em defesa de suas providências adotadas para proteção da Amazônia, sem deixar de registrar que não cabem medidas de retaliação internacional contra produtos brasileiros por conta das queimadas, “que acontecem por toda parte”.
Racionalmente assumiu seu papel de Presidente da República, em linguagem adequada, e não expôs opiniões agressivas como vinha fazendo recentemente contra países parceiros tradicionais e importantes consumidores de produtos brasileiros, especialmente oriundos da agricultura moderna e da extraordinária pecuária que é a nossa.
Aprendeu, suponho e espero, diante da mais grave crise internacional contra os interesses brasileiros, imagem, economia e comércio.
O mundo globalizado não vai mudar por instâncias brasileiras, o tema ambiental está indissoluvelmente ligado às posições e decisões de Governos no plano internacional, e as políticas brasileiras, interna ou externa, não mudarão essa realidade.
É preciso ter consciência de que não temos o Poder dos EUA, para confrontar-nos com o mundo e sair incólumes (talvez nem mais os EUA o tenham).
Podemos tirar dessa globalização o bônus de nossa influência, se soubermos trabalhar diplomaticamente de forma coerente nos planos bilateral e multilateral. Temos passado de bom desempenho, até mesmo ditando caminhos, como o fizemos afirmando um projeto nacional de contribuição para o maior controle do clima no planeta, dentro do foro do Acordo de Paris. Tudo o que prometemos nesse contexto está ao alcance do país fazer. Nós formulamos nosso projeto e o vimos aceito pela comunidade internacional.
Obtivemos liderança nisso.
A Amazônia não deve ser apenas vista e defendida contra alguma forma de “cobiça” internacional, a Amazônia é nosso dever soberano diante do mundo.
É sabida a importância dessa imensa massa florestal/fluvial biodiversa, que é compartilhada por nove países, entre os quais detemos a maior parte, para o equilíbrio natural do planeta. A Amazônia produz água, rios voadores, que abastece amplas regiões da América do Sul e a si própria, ventos e correntes, sem os quais sucumbiremos todos.
O país é líder na produção agrícola e na pecuária, cujos produtos abastecem o mundo. Essa liderança se deve à capacidade de gestão de produtores que entenderam o conceito de produtividade. Crescemos nos espaços imensos que já dispomos para agricultura e pecuária e que podem ainda produzir mais com a tecnologia que viemos desenvolvendo, muitas vezes com o apoio científico e tecnológico da EMBRAPA, organização reconhecida internacionalmente por seus feitos.
Por isso mesmo, no avesso da preocupação ambiental com a Amazônia, alguns países concorrentes, também produtores (agricultura e pecuária), manifestam-se, vigilantes, contra nossa produção e a criticam como se destruíssemos a floresta para aumentar nossa capacidade produtiva.
Por isso mesmo devemos zelar por nossa presença soberana sobre a floresta, porque é nossa e porque não devemos facilitar aventureiros que a desmatem para ganhos adicionais na produção, sem tecnologia. Respondemos interna e internacionalmente por esse zelo.
Dispomos de um Código Florestal amplamente discutido e aprovado há poucos anos, que estabelece os parâmetros para nosso dever de casa. É satisfatório e moderno.
Por sua vez, a biodiversidade da Amazônia há de ser melhor conhecida pelo estímulo à pesquisa científica e identificação de espécies (vegetais e animais) que possam ser aproveitadas economicamente, de maneira sustentável, para se transformarem em riqueza efetiva. Nenhum país do mundo tem esse potencial.
A questão da riqueza do subsolo será mais complexa, pois sua exploração há-de ser regulamentada e fiscalizada rigorosamente, para não produzir danos irreparáveis nas áreas em que poderá ocorrer.
O ser humano na floresta é consideração que não pode deixar de ser feita: o homem é sujeito de direitos e obrigações e é central na tarefa de todos os Governos. Aqueles que vivem na floresta são poucos e isolados, mas conhecem-lhe os segredos e as regras de sobrevivência, índios ou não. São agentes do conhecimento que devemos buscar, protetiva e planejadamente.
Organizações Não-Governamentais devidamente constituídas e com tarefas bem determinadas são instrumentos indispensáveis, auxiliares do Governo, e as há financiáveis, ínclusive internacionalmente, e com objetivos meritórios. Que as conclamemos para atividades definidas em contexto de regras claras republicanas.
Otimistamente, eu diria que um estilo impróprio até ontem adotado por Bolsonaro foi vencido pela realidade. O Presidente reagiu a seus instintos e apresentou-se como representante da Nação.
Rio, 24 de agosto de 2019.
Flávio Miragaia Perri


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

ARGENTINA

Reflexões: 

Há-que ter consciência do significado de nossa relação com a Argentina: a geografia determina nossa proximidade (e porque não dizer?), nossa dependência recíproca.

A relação entre os dois países é físico-geográfica (nascemos gêmeos) e transcende Governos. 

Do ponto de vista do Direito Internacional são Estados soberanos, iguais nos seus direitos e deveres internacionais, entretanto densamente entrelaçados do ponto de vista econômico e humano . 

Modernamente, a Argentina é o terceiro mercado para produtos brasileiros e a principal consumidora de nossos produtos industriais entre automóveis e a abrangente "linha branca", que sobrevivem por conta do mercado argentino e do MERCOSUL, com todos os seus defeitos. 

É importante assinalar que tal mercado não é só Argentina, mas Paraguai e Uruguai, ainda que a parte do leão, no que tange nossos interesses industriais, seja o país platino.

Um Governo brasileiro pode ter preferências políticas, mas não deve expor internacional e agressivamente suas diferenças. 

O campo internacional é naturalmente de interesses mais ou menos conflitantes, mas cujo manejo exige cuidados. A Diplomacia exige respeito recíproco entre países, independente de suas opções políticas internas. Da maneira como foi organizada a convivência inter-estatal, exige-se a não-interferência nos assuntos internos de um Estado em outro. 

No caso Argentino, temos historicamente buscado o entendimento, para superar o belicismo dos primeiros tempos, quando mantínhamos nossas Forças Armadas especialmente capacitadas no sul do país e disputávamos o conhecimento nuclear.

De forma progressiva e inteligente, procuramos o diálogo, mesmo em tempos difíceis recentes, como no conflito envolvendo as Malvinas e o regime de Buenos Aires, quando a tradicional diplomacia brasileira superou-se ao reconhecer a soberania argentina sobre as ilhas, sem agravar nossas relações com  Inglaterra e EUA (que apoiavam a Inglaterra), o que contribuiu para encerrar a disputa sem mais desperdício econômico e perdas humanas.    

Construímos Itaipu, em negociações difíceis envolvendo o Paraguai e a Argentina, que temia as dimensões da usina como uma ameaça até mesmo de destruir Buenos Aires, em caso de rompimento, quando defendiam a ideia de uma usina a jusante, Corpus, dependente da cota da barragem de Itaipu.

As rivalidades e disputas na área nuclear foram superadas definitivamente com a opção da cooperação e informação recíprocas, inclusive pela criação de uma agência binacional para acompanhar os programas nacionais. 

Será compreender a História e nossa tradição diplomática, agora, manter-nos interessados mas atentos, para não prejudicar o Brasil nas relações com um possível Governo de oposição em Buenos Aires.

Rio, 19 de agosto de 2019.

Amazônia

AMAZÔNIA


Uma reflexão necessária:
19 de agosto de 2019

Sobre a Amazônia brasileira o problema que se está criando é menos o maior desmatamento recente e muito mais a desinteligência do que esse mundo verde representa como símbolo de brasilidade e fonte de produção na biodiversidade que agasalha. 
A Amazônia brasileira é nossa, mas parece que não se sabe de sua potencial influência sobre o clima no Brasil e no mundo. Nem é o aquecimento global, que se pode discutir, mas sem a Amazônia o sudeste e o o sul do Brasil receberiam menos chuva e se tornariam áridos; o solo amazônico é raso e, depois do desmatamento, suportará pouco tempo e se tornará ou uma savana inóspita ou um areal sem qualquer possibilidade de recuperação; seus rios secarão ou se tornarão fios d'água...
Para o mundo, a Amazônia e as últimas florestas na África e na Ásia têm sim importância climática e provavelmente serão responsáveis, no desmatamento, por um aumento da temperatura global, uma mudança no regime de ventos e uma elevação consequente do nível dos mares... para dizer pouco.
O Planeta terra não suportará a sobrecarga que essas mazelas representam e com ele sucumbirá a raça humana.
Há-que considerar consequências imediatas de um excessivo nacional-populismo (em forma mais branda, um tal sentimento nacional, mas dispensando o populismo, é desejável) que destrua instituições duramente construídas nos últimos tempos (dos quais participei) e desconsidere dados produzidos por modernas instituições científicas.Há que considerar preocupações humanitário-culturais incluídas nos cuidados com indígenas e escravos-negros históricos em pequenas aglomerações quase simbólicas.
Há que considerar nossa imagem no mundo, que condiciona interesses comerciais, empresariais e de investimento tão necessários.
A política amazônica deve ser nacional e da Amazônia sempre cuidaremos nós, mas sem agressões ou retaliação contra países tradicionalmente amigos, com os quais temos interesses compartilhados. Não há porque tratar mal o mundo, que é também o nosso mundo.

sábado, 19 de agosto de 2017

PSDB E GOVERNO TEMER


Reflexões sobre o papel do PSDB em crise interna.


 Interpretei a carta dos economistas pelo aspecto ético de seus pleitos. O Governo Temer faz-nos temer o desastre institucional por haver sido formado sem compromisso real com o combate à corrupção, hoje tema que permeia toda a realidade política do país. Os fatos estão postos desfavoráveis à composição do Ministério, na realidade produto do "governo de cooptação", que troca cargos e funções por apoio político sem censuras, os fatos não ajudam Temer, ele próprio envolvido num episódio no mínimo pouco digno de sua alta função: receber à noite, na residência oficial, um homem a quem dias depois chama de "bandido" e de "falastrão". Faltou percepção ética. 

2. Creio ser esse aspecto que suscitou a opinião dos economistas.                        

3. Compor o Governo, para o PSDB, não acrescenta, mas pode comprometer. Apoiar as medidas saneadoras e modernizadoras aos poucos implementadas por Temer e seu hábil manejo do Congresso parece-me natural e desejável. São medidas a favor do Brasil, vislumbram um futuro estável por sobre o que fundar o desenvolvimento humano, social, econômico, ambiental. Esse é um papel que cai bem para formação ou reafirmação dos compromissos do PSDB com o país. Não parece necessário participar do Governo. Basta apoiar suas boas iniciativas. 
                       
4. Ao contrário, tratarei rapidamente de Política Externa, como uma citação apenas, mas a Política Externa de Serra ou de Aloysio Ferreira em nada acrescentaram ao renome do partido. Serra melhor que Aloysio, mas sem expressão qualquer dos dois. Melhor não estar no Governo para o papel que desempenharam ou desempenha ainda Aloysio.                    
    
5. Falta a Aloysio Ferreira a coragem de assumir uma posição brasileira, clara e nacional, sobre o que vemos na Venezuela. Para mim, estamos muito aquém do que poderíamos fazer e tudo que parece positivo Aloysio esconde atrás do nome do Mercosul, que presidimos neste semestre. O Chanceler do PSDB parece ter receio de ser assertivo em nome do Brasil e deixa de tomar medidas que poderia tomar, para bem caracterizar a política que vem defendendo em nome do Mercosul. 

6. De que se trata? Medo de atacar um Governo que alguns chamam de esquerda? A Venezuela de Maduro é apenas uma ditadura - e nas nossas barbas -, na fronteira Norte, justo região onde o país tem presença mais fraca e permeável ao ingresso de todo tipo de ameaça, do terrorismo ao narcotráfico e à própria subversão de valores democráticos (imagina MST, CUT, ALN e Farc - ainda irredenta em parte, colombianas -, com milícias bolivarianas...!!!). Porque o Chanceler do PSDB não toma iniciativas nacionais, que nos interessam vitalmente, mais que ao Mercosul. Podíamos fazê-lo e acrescentar o bem feito ao PSDB, mas isso não acontece.                        

7. Apenas como esboço de uma política do possível e do interesse nacional, para acrescentar razões de o PSDB estar no Governo Temer: está bem na hora de a diplomacia brasileira assumir uma posição dura em relação à Venezuela de Maduro, (1) retirando os diplomatas da Embaixada do Brasil em Caracas, determinando a queima dos documentos sigilosos e a entrega dos arquivos a uma Embaixada de país amigo que permaneça em Caracas; (2) para proteger brasileiros que vivam no triste país, manter um setor consular aberto, adido à Embaixada escolhida para guarda de arquivos; (3) em busca de um renome perdido de nossa diplomacia, coordenar-se com países sul-americanos especialmente, para constranger Maduro e seus asseclas, pela via diplomática, em todos os foros de significado no caso, inclusive os de defesa dos Direitos Humanos e de relevância econômica e comercial; (4) para não ignorar os sofrimentos do povo venezuelano, deveríamos atuar nos foros e organizações internacionais de militância humanitária e redobrar nossa contribuição por meios internacionais em matéria de alimentos, medicamentos e voluntariado na área da assistência médica; (5) no plano interno, deveríamos assegurar a incolumidade de nossa fronteira Norte, coordenando políticas e ações internas com outros Ministérios igualmente responsáveis: Justiça, Defesa, etc.           

8. Em resumo, há o que fazer se o PSDB deve estar no Governo, mas muito o Partido da Social Democracia Brasileira teria condições de defender apenas na trincheira política, no Congresso e em militância política envolvendo a opinião pública.  Também em matéria de Política Externa, mas não se submeter a essa política de panos quentes que nos amordaça como país democrático e de tradições diplomáticas significativas.                        

Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2017

sábado, 22 de julho de 2017

ONDE ESTAMOS? PARA ONDE VAMOS?

Do caos às causas. Ações aparentemente possíveis.


Salvo acordões meio indecentes, ninguém sabe da futura evolução do quadro político diante do clima de intrigas e contra-intrigas que são publicadas ou apresentadas em Jornais televisivos. Tem-se uma visão dos grupamentos em que se divide a classe política; conhece-se a expectativa da área privada; pouco se sabe, a despeito de pesquisas de alcance e eficácia discutível, das reais tendências e opiniões da sociedade. 
A perplexidade amplia-se diante das ações recentes do Governo, que avança e recua e, ultimamente, vem-se caracterizando por uma preocupação aparentemente dominante de defender o mandado de Temer.O que mais? 
O Congresso continua a sua luta surda para desqualificar o Lava Jato ou talvez congelar seus efeitos, imobilizando novas ações, fora a faina diuturna para obter cargos ou vantagens quando apoiam o Governo Temer. 
Do Supremo Tribunal Federal não temos notícias sempre alvissareiras: alguns Ministros disputam, heterodoxos, espaços nas manchetes e anunciam suas posições e opiniões sobre temas ou casos que deverão julgar. São raríssimos (e respeitáveis) os componentes do STF que se mantêm discretos, judiciosos em suas poucas opiniões. O Supremo foi muito prejudicado por designações excessivamente fundadas nas opiniões e vinculações políticas a grupos políticos. Os governos do PT (Lula e Dilma) puderam nomear número expressivo de Juízes, supondo fidelidades ideológicas. Nesse passo e devido a estranhas conjunções de fatores, o  Supremo perdeu, como órgão superior da Justiça, guardião da Constituição, no respeito dos cidadãos.
Há uma crise de credibilidade no país. 
Não se acredita no papel democrático e republicano das instituições formalmente ungidas como Três Poderes pela Constituição de 88. Desacredita-se mais ainda dos atuais detentores de funções nos três ramos do Poder. Há partidos políticos demais, que não representam visões ideológico-doutrinárias distintas e se confundem em suposta e conjuntural "situação"; em inquieta (o que seria natural) mas irracional "oposição", na maior das vezes confundida por uma liderança oportunista e sem ideologia clara do lulopetismo; e um"centrão"inconfiável, malandro, oportunista e aproveitador. 

Que fazer?

Difícil na atual conjuntura dizer. Em todo caso, arrisco antever algumas etapas, ou talvez tímidos passos, que me parecem obrigatórias para tentarmos progressivamente chegar a um quadro mais lógico e respeitável para atuação política (e parece político, antes de econômica, o traçado de uma rota de recuperação nacional - a economia é central e não se pode fugir do que se vem fazendo para encontrar a estabilidade fiscal, mas em minha elucubração deixo de lado esse hercúleo esforço da equipe econômica, que vai caminhando apesar de todos os pesares).  
Diante do atual quadro congressual, caracterizado pela falta dos grandes condutores com visão de um projeto nacional (exceto poucas exceções), talvez devêssemos começar por três medidas eleitorais para valer já nas eleições de 2018: (1) uma cláusula de barreira, que reduzisse o número de partidos e reagrupasse os atuais em torno de projetos doutrinário-ideológicos para ação coerente futura; (2) como corolário, a proibição de coligações com consequências eleitorais e (3) a adoção de um sistema eleitoral distrital-misto, isto é, um voto ideológico nos partidos e um voto distrital , aproximando o eleito das causas e temáticas de sua origem.
Realizada a eleição em 2018 sob essa nova configuração, talvez pudéssemos  reiniciar a legislatura com maior coerência intrínseca, trabalhando com um novo Presidente que se elegeria na mesma ocasião.
O novo Presidente já é uma nova história, eleito para representar o país, como Chefe de Estado, e organizar a execução do orçamento segundo um projeto nacional e conduzir, como o executivo maior, a economia. 
Seria preciso falar da Constituição pesada de 1988, que é duplamente excessiva nos detalhes impróprios para uma Carta Magna ou na sobrecarga que atribui ao Estado, sem considerar que o peso excessivo de responsabilidades sociais, que lhe atribui diretamente, tendem a asfixiá-lo por falta de meios administrativos e rendas. De 2018 em diante seria necessário trabalhar nisso.  
Não vejo entretanto ainda um projeto nacional esboçado com clareza por nenhum dos partidos e "repartidos"que se esbarram nos corredores do Poder: 
Sendo esquemático, quem é liberal na condução da economia? quem é liberal politicamente? que liberalismos estariam representados > o liberalismo social ou ou liberalismo nos costumes e procedimentos individuais? quem é social-democrata? o social democrata do Estado omnipresente ou ou que adota uma concepção mista de um Estado regulador, pouco intervencionista, capaz de gerar redes de segurança social e liberar a iniciativa privada como sócia nessa tarefa? quem é socialista, marxista ou fabiano, ou gramsciano? quem é ambientalista "à outrance" ou defensor de um desenvolvimento sustentável? e assim por diante... 
A resultante seria a condução da economia, que em nenhum caso pode dispensar o equilíbrio fiscal. O erário é constituído pela arredação de impostos, que são retirados da contribuição das pessoas, físicas ou jurídicas. É o guardião do Orçamento, de que a execução segue as linhas do projeto nacional, como interpretado pelo Presidente e permitido pelas Leis, onde entra o Congresso Nacional. Nada além disso pode ser suposto, exceto quando inclui rendas financeiras, o que já é outra história, mas também dependente do desenho do projeto nacional.  
Esse é meu inútil dever, escrever e pensar, pois tudo deverá ser suposto no correr do tempo futuro onde pouco estarei depois de sobreviver ao caos que se parece instalar neste país por ora infeliz. 

Rio de Janeiro, 22 de julho de 2017

quarta-feira, 21 de junho de 2017

CRISE? (que crise?)





A crise atual não se resolverá em dias. Infelizmente o país entrou num ciclo longo de desequilíbrio político, envolvendo atitudes e procedimento de atores, infelizmente com tempo ainda de ribalta, que compõem os três ramos do Poder do Estado. Não me parece um problema institucional, mas derivado do mal uso que seus atuais detentores fazem das instituições .

Há um Congresso medíocre, de deputados e senadores despreparados, do que resultam atitudes radicais de algumas "lideranças" de ocasião, "representando" partidos em número excessivo, em busca de sua vantagem no berro ou na conjugação de um certo número, vocalizando seus interesses disfarçados em projetos de Lei ou de emendas por vezes apresentados com intenções positivas. Recordo a derrota por 10 votos a 9 do relatório do excelente Senador Ricardo Ferraço, sobre leis trabalhistas, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado.

O fato é negativo para um projeto de reformas necessárias. Pode ser episódico e a situação talvez volte a reconduzi-lo bem na Comissão de Constituição e Justiça e posteriormente no Plenário. Pode ser que sim, pode ser que não. Esse é um teste de importância para o Presidente Temer. Sua força relativa como ex-parlamentar e Presidente capaz de oferecer benesses, cargos e funções para senadores e deputados parece claramente decadente.

O Chefe do Executivo continua sob fogo cerrado. Parece incrível que um jurista assessorado por advogados de grande fama embarque numa ação na Justiça contra Joesley Batista, por danos políticos e morais a sua imagem. Ação mal pensada e fadada, como aconteceu, à recusa de aceitação por um Juiz de primeira instância, foi baseada na publicação da revista Época que não faz mais do que reproduzir os termos da delação premiada do impetrado, já conhecida e homologada pelo STF. Que difamação ou calúnia ou dano moral adicional pode causar a repetição de narrativas já consolidadas em processo judicial? 

Convenhamos, para o mal-estar geral e infelicidade nossa, Temer não é brilhante.

O Supremo Tribunal Federal é claramente capenga, com alguns de seus membros excessivamente identificados com os Presidentes que os nomeou (cfr. Lewandowsky e Toffoli, só para citar dois). Há ainda os que disputam manchetes onde sobressai esse lamentável Gilmar Mendes, que já perdeu a (pouca) credibilidade que tinha como constitucionalista e bom conhecedor da estrutura do Estado. Sua língua irreprimível agora o leva a criticar diretamente Juízes e Promotores por conta de sua idiossincrasia a respeito do universalmente apoiado processo da Lava Jato. Navega contra a corrente e ainda se arroga o direito de "dar uma lição" ao povo (ignorante?) sobre procedimentos judiciais. Suas falas reúnem alguns simpatizantes entre delatados e acusados e arregimentam antipatias na população que está ávida de punições a políticos e empresários que assaltaram (e ainda assaltam) dinheiros na origem públicos.

O pior cenário está em que esse comportamento ínvio ou desonesto de políticos e juízes tendem a desmoralizar as instituições definidas pela Constituição de 88, aliás ela própria já sujeita a críticas duras, mas isso é uma outra história a que voltarei em outro ou outros escritos.
  
Rio de Janeiro, 21/06/2017