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terça-feira, 1 de maio de 2012

RIO+20


Rio+20
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

[janeiro de 2012]

O Rio de Janeiro voltará a sediar, vinte anos depois, uma conferência das Nações Unidas, desta vez conhecida como Rio+20.
O nome oficial é eloquente demonstração da confirmação universal de um conceito:
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

É flagrante a diferença da primeira ocasião. Ao conjugar desenvolvimento e meio ambiente, em 1992, a comunidade internacional ainda desconhecia o conceito, então ousado, que tateava e tentava consagrar-se desde a leitura do Relatório Brundtland, de 1987, intitulado “Nosso Futuro Comum”.
Tratava-se naqueles anos de estabelecer o conceito de desenvolvimento sustentável então muito mais vinculado às prioridades da vocalização ambientalista do que à intrincada discussão sobre os caminhos do desenvolvimento, tradicionalmente definidos a partir dos vieses dos socialismos opostos ao capitalismo. A nova formulação apunha, pela primeira vez com perspectivas de sucesso, um qualificativo ao conceito de desenvolvimento.

O desenvolvimento deveria ser sustentável, isto é, deveria ocorrer sem que fatores erosivos impedissem sua continuidade no tempo.
Havia nele uma proposição ética, envolvendo uma responsabilidade intergeneracional, isto é, o aproveitamento que a humanidade fizesse em qualquer tempo dos bens naturais, “para atender às necessidades do presente” não deveria comprometer “a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”.

Nos vinte anos que intermedeiam 1992 e 2012, o conceito foi tomando formas e compondo modelos, ganhando conteúdo.
A comunidade internacional em diversas ocasiões, em distintas instituições, públicas e privadas, trabalhou ideias e temas em torno desse conceito-chave da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio, em 1992.
Apenas para recordar à guisa de apoio à memória, destaco nesse interregno os trabalhos desenvolvidos pelo Conselho de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas [CDS] ou pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação [FAO] e por grandes conferências como a Cúpula do Milênio, convocada pelas Nações Unidas e ocorrida em Nova Iorque de 6 a 8 de setembro de 2000, que adotou a Declaração do Milênio, assinada por 100 chefes de Estado e 47 chefes de governo. 
Entidades privadas incorporaram o tema a suas agendas. São exemplos desse despertar o pioneiro Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), a Câmara de Comércio Internacional [ICC], e, no plano nacional, no Brasil, as diversas confederações e federações empresariais e corporativas estaduais. Por sua vez, organizações não-governamentais [ONGs] de significado nos planos internacional e nacionais vêm lapidando e divulgando o conceito.

Muito se acrescentou à ideia do desenvolvimento sustentável. Refiro-me, em particular, ao sentimento comum de reconhecimento de sua validade que se expandiu da formulação intergeneracional original para ganhar os espaços atuais, transversalmente, do local ao internacional e ao planetário, perpassando praticamente todas as atividades humanas.
Prevaleceu a percepção de que o conceito, em 1992 novo e ainda por desenvolver, aplica-se universalmente, sem exclusões.
Nisso, a ideia de sustentabilidade enriqueceu o conceito de desenvolvimento, por esclarecer a necessidade de que ocorra em todos os planos, em cada um e em todos os países, atravessando fronteiras e renomeando obrigações internacionais. Ficaram igualmente evidentes as responsabilidades comuns, porém diferenciadas, entre países de desigual estágio de desenvolvimento.

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 – realiza-se assim em clima substancialmente diverso da que o Rio organizou em 1992.
É relevante assinalar que a participação da opinião pública é o diferencial mais importante. O convencimento é hoje global.

Por evidência e convicção, destaco nessa evolução o significado do combate à pobreza e à fome como metas essenciais para a plena realização do desenvolvimento sustentável. Foi já em 1992 objeto do Princípio 5 da Declaração do Rio e ganhou destaque como objetivo número 1 – “erradicar a fome e a miséria” - dos oito objetivos [ODMs] consagrados na Declaração do Milênio.

Nessa ordem de ideias, é necessário entender que a Conferência Rio+20 não é uma conferência sobre meio ambiente, mas uma reunião internacional convocada no mais alto nível para tratar da problemática do desenvolvimento e de sua sustentabilidade.
Sua agenda de dois itens apenas esconde a amplitude de seus propósitos.
Governos, povos do mundo inteiro representados por organizações multifacetadas, empresas e empresários, intelectuais dedicados ao estudo e desenvolvimento do tema, acadêmicos, cientistas e pesquisadores, professores e estudantes, juristas e legisladores, líderes políticos e sindicais, profissionais de todas as artes e ofícios são convocados para inovar, integrar valores, dar nova vida e sentido objetivo ao tratamento do tema.

Os jovens são chamados a mobilizar-se em torno do conceito de sustentabilidade, tendo a questão do desenvolvimento como núcleo.
Será deles a tarefa de garantir a continuidade ininterrompida do processo de desenvolvimento, que não comprometa os bens naturais do planeta e tenha por meta a vida humana digna. É deles o futuro.

Os delegados governamentais, entre líderes mundiais, Chefes de Estado e de Governo, haverão de responder a essa mobilização e produzir, no Rio, em junho próximo, uma Declaração de impacto que os comprometa a transformar palavras em ações. A Declaração do Rio, a Agenda 21, os Objetivos do Milênio estão para serem complementados por decisões que se tomarão no Rio, mas dependerão de futuras ações coerentes que modificarão modos de vida, afetarão os modelos de produção, condicionarão hábitos de consumo, em âmbito planetário.
O que se espera da Conferência Rio+20 é uma nova rota que dê às pessoas individualmente, aos povos e nações um sentido de segurança no futuro e de justiça no uso racional e responsável dos bens da natureza.
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Flávio Miragaia Perri é Embaixador aposentado, foi Secretário Executivo do Grupo de Trabalho Nacional que organizou a Conferência do Rio em 1992, Secretário Nacional do Meio Ambiente, Presidente do Ibama, Secretário de Estado do Meio Ambiente no Rio de Janeiro.                       

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